terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Cidade

Eu perdi a hora
eu esqueci o lugar.
Eu esqueci a senha
que perdi pra guardar.
Eu perdi o passo,
atravessei o compasso
do ritmo da cidade.
Um "alô", um abraço
um "até logo", um "eu passo"
e acabou tal instante.
Você há de desculpar
os meus modos impacientes
os que já estou ciente
e os que hei de notar.
Você há de desculpar
o falar apressado
o excesso de gesticulados
e a pressa no andar.
É que precisam de mim,
é que já tenho que ir
é que preciso estar
em outro lugar.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Enclausurados

Cercas, grades, condomínios
cidadãos em desespero
em fortalezas de cimento
a se enclausurar.
E as rodas de conversa
as cadeiras nas calçadas
hoje apenas momentos,
só para se lembrar.

O medo da bala
o medo que abala
o medo que se instala
ao ver os telejornais.
E compra alarme e trava
e se pudesse até estava
a portar escudo e espada
pra se garantir ainda mais.

E quem deveria tomar conta
na omissão de sua missão
vai e os deixa à mercê
de sair de casa todo dia
na incerteza que angustia
do que pode acontecer.

terça-feira, 29 de março de 2011

Aquela velha canção

Aquela velha canção. Aquela que você ouvia anos atrás.É a mesma canção, mas agora diferente. São os mesmos acordes, mas ela está diferente. É a mesma letra, a mesma melodia, mas está diferente. E são os mesmos ouvidos que a captam, porém, diferentes.
Antes soava nova, soava a descoberta. Acompanhou os fatos que agora fazem parte apenas da memória. Foi companheira, e ainda o é até hoje. E, tal qual qualquer companheira, teve suas mudanças com o passar do tempo, pois as canções têm vida própria e sobrevivem a nós. Podem ser eternas, se assim quiserem. São seres atemporais, se assim permitirem.
Antes era a trilha do agora. Hoje é a trilha do outrora. Te arrasta a cada audição para aquele tempo, ouvindo, relembrando, revivendo, porém tudo apenas e tão somente na mente. O palco  para tudo aquilo agora é outro, e definitivamente.
Fatos, pessoas, lugares,brigas, reconciliações, amizades, inimizades, amores, desamores, aventuras e desventuras. Em algum momento ela esteve lá. E te traz de volta. E te arrebata pra lá. Mas não totalmente.
Aquela saudade, aquela nostalgia, aquela vontade de voltar e aquilo tudo não volta.Não voltará. Não de verdade.Tudo o que se tem são flashes, e é tudo o que terá. Nada mais.
E tudo isso no espaço de tempo de uma simples canção, que, só por isso, deixou de ser simples.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Eu e a felicidade

Felicidade plena, total e irrestrita é uma promessa. Algo que talvez nunca chegará totalmente - sempre faltará algo, sempre há  incompletude. E a busca acaba sendo incessante e às vezes extenuante.
Mais fácil buscar momentos felizes. Esses é que devem ser plenamente vividos - por serem tão momentâneos e fugidios, porém de simplicidade ímpar -  antes que a tristeza, os dissabores e o stress do dia -a -dia venham nos arrebatar. Até que outros momentos felizes nos arrebatem de volta.
E assim segue o ciclo...

domingo, 12 de dezembro de 2010

Dezembro



Luzes em todo lugar
a cidade a se enfeitar
como a moça que se embeleza
enquanto ansiosa espera
uma ocasião especial.

Então é Natal.

O ano acabando,
o ano acabou.
Dezembros cheiram a nostalgias,
ao tempo que já passou.

 Então é natal.

Compras, contas, promoções.
prestações.
Planos, projetos, metas,balanços.
Decisões.
Frustrações.
Ambições.
Direções.

Qual foi o saldo do ano que se vai?
Pra onde o ano vai quando se vai?
Pra onde a gente vai no ano que vem?
Pra onde a gente foi no ano que vai?

Dezembros cheiram a nostalgias.

As ceias, a família reunida
presentes, alegria incontida
de quem foi presenteado
com algo de seu agrado
que logo será objeto usado
ultrapassado
até novo presentear.
Memórias de uma vida de simplicidade
das mais simples felicidades
que só a pouca idade
nos pode proporcionar.

Então é Natal.

A cidade e seu espetáculo de luzes
aguardando outro espetáculo de luzes
pra demarcar
o reinício do ciclo
o reinício do início
até um novo dezembro
cheirando a nostalgias
a boas nostalgias
a antigas alegrias
evocando passado.
Planejando futuros.

Dezembros cheiram a nostalgias.

Então é natal.

Então é Natal.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Ventura





Talvez por causa da recente "mini-turnê" dos Los Hermanos e de ter assistido ao show do SWU no You Tube, ou só porque bateu vontade mesmo, resolvi ouvir recentemente o disco "Ventura". Fazia muito tempo que não colocava nenhum disco deles pra tocar -  tinha até enjoado um pouco, confesso.
Aí fui ouvir o Ventura... e um filme foi passando a cada música. Como esse disco me marcou. Como me identificava - e ainda me identifico, de certa forma - com aquelas músicas. E como ouví-lo me faz também lembrar muito dos tempos da faculdade.
A música tem essa capacidade de marcar momentos e associar-se a estes nas nossas mentes. É uma de suas características mais interessantes, sem dúvida.
Após esse disco comecei a prestar mais atenção em MPB, comecei a tirar as músicas no violão e aprendi um monte de acordes novos. Um acorde diminuto era uma novidade e tanto pra mim naqueles tempos... praticamente reaprendi a tocar violão. Isso me fez evoluir muito como instrumentista (Fora que pra impressionar as garotas que também curtiam a banda era muito útil saber tocar aquelas músicas ao violão hehehehe) .
Acho que certos discos nos marcam porque talvez apareçam em nossas vidas no momento exato. Falando as coisas certas pra aquele momento específico e, assim, tornando-se trilha sonora de uma época.
Esse foi um dos últimos álbuns realmente marcantes pra mim. Foi um dos últimos que me lembro de ter gostado logo de cara, de ter colocado pra tocar de novo após ter terminado. De ouvir sem pular nenhuma música. De ouvir até quase fazer outro furo no CD. De ter músicas que  chegaram a me emocionar de verdade.
Quero muito que apareçam outros discos que me façam ter a mesma atitude: que me causem uma identifição imediata, que eu goste de todas as músicas e não só de algumas poucas, que estas sejam instigantes, emocionantes e quaisquer outros adjetivos positivos que se possa atribuir, que estas me façam ouvir e ouvir o álbum por mais do que uma semana, mais que um mês.
Porque parece que as coisas estão assim agora: conheço o trabalho novo de uma banda, gosto, ouço por um tempo (uma, duas semanas, ou pouco mais), depois vou ouvir outra coisa e vou deixando de lado o disco anterior. E pelo que percebo, isso não é só comigo, é uma tendência dos novos tempos: está tudo muito imediato, até mesmo superficial. E imediatismo e superficialidade em música não é legal...

domingo, 19 de setembro de 2010

O passado e os passos

O passado eu passo a limpo
em papel pautado ou passado
e passo a vigiar melhor os meus passos
para torná-los mais aptos
para torná-los mais sábios
e irem direto na direção correta
mesmo certos que a direção é incerta.
E se talvez a recompensa compensar
não será uma pena não ter tido nenhuma pena
de pôr os pés preguiçosos para andar.