quinta-feira, 29 de março de 2007

Falta de educação

O professor pára em frente à porta da sala de aula. mais uma vez, hesita. Sabe que os alunos mais uma vez não lhe darão a mínima atenção. Sabe que mais uma vez falará para as paredes, as únicas ali que parecem verdadeiramente interessadas no conhecimento que ele tem para passar. O estridente toque para a mudança de horário lhe parece como as sirenes que anunciam os bombardeios em filmes de guerra. E, com isso em mente, sente-se como se estivesse verdadeiramente em uma guerra. Lembra dos comentários do colega que acabara de deixar a sala: " hoje eles estão impossíveis!"
A hesitação continua.
Enfim, decide abrir a porta. Ao entrar, a mesma situação de todos os dias. A maioria de pé, transitando pela sala, muitas vezes correndo e arrastando as cadeiras que estiverem no caminho, outros entretidos com guerras de bolinha de papel ou com qualquer outra coisa que julgam mais interessante para o momento. Nem sequer notam sua presença. E se notaram, não se importam. Diversão antes, durante e depois, essa é a regra. Dane-se o estudo.
Respira fundo. Silenciosamente coloca sua pasta em cima da mesa e procura a caixinha do giz para passar para o quadro o assunto de hoje. Mas não há giz disponível para ele. Então nota que a guerra de bolinhas de papel foi substituída por uma guerra de giz. Um pedaço que não encontrara seu alvo cai próximo a seus pés. E o professor conclui que é com este pedaço que terá que escrever sua lição no quadro-negro.
Mais uma vez olha para a baderna à sua frente. Como resolver essa situação? Trinta e oito alunos dentro de uma sala de aula, trinta e oito personalidades distintas, trinta e oito pessoas que não têm ainda nenhuma noção do que a vida lhes reserva no futuro. E nem se importam com isso.
E ele, sozinho, para lidar com todos eles. É o que a direção da escola espera dele. É o que os donos do colégio querem dele. E é um serviço dos mais estafantes, para o qual é muito mal remunerado. Um contra trinta e oito. E nem deveria haver esse "contra". Não deveria ser assim. Mas era. Era e é.
Se é ele contra trinta e oito, é uma situação desigual. Ou uma batalha desigual, como queiram. Quem o ajudaria? Para a escola, aqueles trinta e oito alunos nada mais são que matrículas e mensalidades. E se não estão aprendendo direito, a culpa é do professor. E se ele não estiver fazendo o seu serviço direito, é rua. Mas como realizar um bom trabalho numa situação como aquela?
Não consegue parar de pensar que aqueles à sua frente são o futuro dessa nação. E um calafrio percorre sua espinha. Uma geração completamente despreparada para assumir os rumos desse país, que vai mais uma vez continuar a ser o que sempre foi.
Sente-se desesperançoso, deprimido,derrotado, impotente,perdido. Mal consegue segurar o pedaço de giz que pelo acaso de uma péssima mira lhe sobrou para escrever no quadro.
E decide não escrever nada. decide não falar nada, não forçar a voz, desiste de continuar com os inúteis pedidos de silêncio. Decide nunca mais dialogar novamente com as paredes. A partir de agora não acreditaria mais na educação, apenas na falta dela. Primeiramente sentiu que estava radicalizando, exagerando, mas depois passou a sentir-se à vontade com os novos pensamentos. Iria abandonar definitivamente a carreira de educador, retirar-se para um lugar isolado, fugir desse país com um futuro incerto.
E uma calma invadiu-lhe a alma. Toda o barulho, toda a balbúrdia já não lhe incomodava mais. Sentia-se leve, como se tivesse encontrado a solução para todos os seus problemas. Estava tudo claro. Tudo decidido. Era a única solução. Chega de pensar nos outros, de agora em diante só pensaria em si mesmo.
E então o sino tocou anunciando o fim da aula e todos os seus pensamentos se desfizeram imediatamente.
Até a próxima aula.
Se é que haverá.

quinta-feira, 15 de março de 2007

ARQUIVO CAOS CONTROLADO

Mas que história é essa de "arquivo caos controlado"? bem, há muito tempo atrás, eu tive um outro blog, também chamado "caos controlado", que foi minha primeira experiência em publicação de devaneios na web. como na época estava sem conexão com a internet em casa, dependendo das "Lans", acabei por deixá-lo de lado. Um belo dia, por curiosidade, digitei na barra de endereços o link do dito cujo, e, para minha surpresa, o finado blog não está tão finado assim... ou, pelo menos, não "saiu do ar"...
então, para deleite dos que visitam (?) essa página, disponibilizo abaixo o tal link, já que nos últimos dias não ando muito inspirado pra postar nada de novo por aqui.
pessoalmente, recomendo os textos sobre ansiedade, resoluções inúteis de fim de ano e um sobre nostalgia (o segundo texto, se não me engano).
sem mais delongas, o link:

http://caoscontrolado.blig.ig.com.br/

sábado, 3 de março de 2007

VERGONHA ( enquanto o Brasil se preocupa com o paredão da semana ...)


Vocês sabiam que os larápios de colarinho branco podem se safar definitivamente de processos contra eles? e que, em dez anos, nenhum deles, com excessão do PC Farias, foi condenado?Essa notícia saiu em diversos veículos de comunicação na semana passada, inclusive na Veja. Coloquei abaixo alguns textos que encontrei na internet a respeito do assunto.
Esse texto foi publicado no site do Estadão:

"STF pode livrar políticos de ações por improbidade
Votação definirá se ministros, governadores e prefeitos têm direito a foro privilegiado
SÃO PAULO - O Supremo Tribunal Federal (STF) deve votar nesta quinta-feira, 1º, uma matéria que definirá se ministros, governadores, secretários e prefeitos têm direito a foro privilegiado no julgamento de ações de improbidade administrativa.
Caso o STF entenda que agentes políticos não são passíveis desse tipo de ação judicial, cerca de dez mil processos por improbidade serão extintos. A decisão poderá livrar políticos como os deputados Paulo Maluf (PP-SP) e Antonio Palocci (PT-SP), o ex-governador Orestes Quércia (PMDB-SP) e o senador e ex-presidente Fernando Collor de Mello (PTB-AL).
De acordo com a Lei de Improbidade Administrativa, de 1992, agentes políticos suspeitos de corrupção, enriquecimento ilícito e desvio de dinheiro público não têm direito a foro privilegiado. Por esse motivo, podem ser condenados a pagamento de multa, ressarcimento de valores desviados e perda dos direitos políticos.
Se o STF optar pela extinção da lei, ministros, governadores, secretários e prefeitos poderão ser processados apenas pelo crime de responsabilidade, que prevê sanções mais brandas e, em alguns casos, são julgados em assembléias ou câmaras. "



E esse outro texto, achei no site mídiaindependente.org:

"Fonte: G1 Última condenação foi a de PC Farias, em 1994. Tribunal pondera que as ações penais são mal instruídas. O mandato parlamentar é garantia quase certa de uma vida sem complicações penais com a Justiça. É o que indicam os julgamentos dos últimos dez anos de processos criminais envolvendo políticos no Supremo Tribunal Federal (STF) _instância máxima do Judiciário brasileiro que tem a competência de julgar ações penais contra presidentes da República, senadores, deputados e ministros. De 1996 até 2006 o STF julgou definitivamente 29 processos penais contra políticos que têm direito a foro privilegiado. Nenhum foi condenado. Dos 29 processos criminais, 13 prescreveram - deixaram de existir, porque acabou o prazo em que a pessoa acusada podia ser punida pelo crime. Em outros dez casos, a ação foi encaminhada pelo STF para instâncias inferiores. Nas seis restantes, os acusados foram absolvidos. São casos de desvio do dinheiro público, formação de quadrilha, gestão fraudulenta, lesão corporal, crime contra a honra, crime eleitoral, danos ao patrimônio, sonegação fiscal e até uma acusação por furto de água em São Paulo. O último caso de que se tem notícia de condenação no Supremo é de 1994. O ex-tesoureiro de campanha do ex-presidente Fernando Collor, Paulo César Farias, o PC Farias, recebeu pena de sete anos do STF. Mas PC Farias foi morto em 1996. "


E tem gente preocupada com o paredão do big brother...