O professor pára em frente à porta da sala de aula. mais uma vez, hesita. Sabe que os alunos mais uma vez não lhe darão a mínima atenção. Sabe que mais uma vez falará para as paredes, as únicas ali que parecem verdadeiramente interessadas no conhecimento que ele tem para passar. O estridente toque para a mudança de horário lhe parece como as sirenes que anunciam os bombardeios em filmes de guerra. E, com isso em mente, sente-se como se estivesse verdadeiramente em uma guerra. Lembra dos comentários do colega que acabara de deixar a sala: " hoje eles estão impossíveis!"
A hesitação continua.
Enfim, decide abrir a porta. Ao entrar, a mesma situação de todos os dias. A maioria de pé, transitando pela sala, muitas vezes correndo e arrastando as cadeiras que estiverem no caminho, outros entretidos com guerras de bolinha de papel ou com qualquer outra coisa que julgam mais interessante para o momento. Nem sequer notam sua presença. E se notaram, não se importam. Diversão antes, durante e depois, essa é a regra. Dane-se o estudo.
Respira fundo. Silenciosamente coloca sua pasta em cima da mesa e procura a caixinha do giz para passar para o quadro o assunto de hoje. Mas não há giz disponível para ele. Então nota que a guerra de bolinhas de papel foi substituída por uma guerra de giz. Um pedaço que não encontrara seu alvo cai próximo a seus pés. E o professor conclui que é com este pedaço que terá que escrever sua lição no quadro-negro.
Mais uma vez olha para a baderna à sua frente. Como resolver essa situação? Trinta e oito alunos dentro de uma sala de aula, trinta e oito personalidades distintas, trinta e oito pessoas que não têm ainda nenhuma noção do que a vida lhes reserva no futuro. E nem se importam com isso.
E ele, sozinho, para lidar com todos eles. É o que a direção da escola espera dele. É o que os donos do colégio querem dele. E é um serviço dos mais estafantes, para o qual é muito mal remunerado. Um contra trinta e oito. E nem deveria haver esse "contra". Não deveria ser assim. Mas era. Era e é.
Se é ele contra trinta e oito, é uma situação desigual. Ou uma batalha desigual, como queiram. Quem o ajudaria? Para a escola, aqueles trinta e oito alunos nada mais são que matrículas e mensalidades. E se não estão aprendendo direito, a culpa é do professor. E se ele não estiver fazendo o seu serviço direito, é rua. Mas como realizar um bom trabalho numa situação como aquela?
Não consegue parar de pensar que aqueles à sua frente são o futuro dessa nação. E um calafrio percorre sua espinha. Uma geração completamente despreparada para assumir os rumos desse país, que vai mais uma vez continuar a ser o que sempre foi.
Sente-se desesperançoso, deprimido,derrotado, impotente,perdido. Mal consegue segurar o pedaço de giz que pelo acaso de uma péssima mira lhe sobrou para escrever no quadro.
E decide não escrever nada. decide não falar nada, não forçar a voz, desiste de continuar com os inúteis pedidos de silêncio. Decide nunca mais dialogar novamente com as paredes. A partir de agora não acreditaria mais na educação, apenas na falta dela. Primeiramente sentiu que estava radicalizando, exagerando, mas depois passou a sentir-se à vontade com os novos pensamentos. Iria abandonar definitivamente a carreira de educador, retirar-se para um lugar isolado, fugir desse país com um futuro incerto.
E uma calma invadiu-lhe a alma. Toda o barulho, toda a balbúrdia já não lhe incomodava mais. Sentia-se leve, como se tivesse encontrado a solução para todos os seus problemas. Estava tudo claro. Tudo decidido. Era a única solução. Chega de pensar nos outros, de agora em diante só pensaria em si mesmo.
E então o sino tocou anunciando o fim da aula e todos os seus pensamentos se desfizeram imediatamente.
Até a próxima aula.
Se é que haverá.
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Há 2 anos
4 comentários:
Crônica sobre a (des)educação... gostei... só não mande nunca prá Nova Escola, se não, é capaz deles mandarem jogar uma bomba no seu apartamento - hahahahahahaha
é um desabafo pessoal????, rsrsrss brincadeirnha rsrsrsrsrs, claro que é... Isso ai é a nossa vida, infelizmente é assim. acho q vc expressou muito bem a nossa complicada situação. POBRES PROFESSORES!!!!!!!!
22 de Abril de 2007 17:07
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