domingo, 11 de outubro de 2009

Será só imaginação?

Isso aconteceu com um amigo meu. Tenho permissão dele para divulgar, mas não usarei nomes reais, pois essa foi a condição. É basicamente algo que me fez refletir muito ultimamente sobre mim mesmo, tamanha a identificação que senti com essa história, que tentarei narrar a seguir:
José Silva Filho está apreensivo. Escuta o refrão da canção "Será", da Legião Urbana, e isso o diz muito num momento decisivo de sua vida. O refrão inteiro dessa canção o lembra o atual momento: definições e indefinições. Principalmente em relação a um caminho que, não tem certeza se escolheu ou se foi escolhido.
De uns tempos pra cá , era nítida a sua frustração, a falta de um foco, mil projetos, que mudavam incessantemente. A cada semana um novo plano, a cada dia mais frustrações. E frustrações com o quê?
Profissionais. Nada do que fazia o agradava, ou não conseguia agradá-lo por muito tempo. Primeiro a frustração da profissão na qual se formou. É uma profissão bacana, mas se convenceu que não é para ele. A partir daí, concursos públicos. Mais frustrações.
A coisa foi ficando desesperadora: a procura de algo ao qual se agarrar, uma tábua de salvação, um norte. Mas nada satisfazia. Não conseguia gostar de nada.
Para ele o lance sempre foi música. Essa veia sempre foi forte. Desenhava e pintava antes de arranhar os primeiros acordes, mas confessou certa vez que isso não o satisfaz por completo, não preenche tanto o seu ser quanto ela. Meio melodramático, mas é por aí...
Daí pensou: "quer saber? foda-se!!! vou investir mais tempo nisso. Vou levar mais a sério. Pois pra mim não tem outra coisa. Não tem outra coisa"!
São coisas que inegavelmente dão mais dinheiro e - dependendo da profissão - status os trabalhos mais convencionais, mas não consegue se imaginar o resto da vida num escritório, com a maçante e repetitiva rotina dos serviços burocráticos (já trabalhei com isso também, sei como é). Fora a sensação de que talvez tenha passado toda a faculdade se enganando, iludindo a si mesmo que seria a sua área, que viveria e trabalharia nisso até o fim. Também sei como é isso.
Mas música é algo que, para alguém como ele, que a ama de verdade, se é algo maravilhoso pra se trabalhar, também é algo que assusta. Pela indefinição. Pela instabilidade. Pela falta de apoio familiar. Totalmente à deriva. Vale a pena arriscar?
Para ele, nesse momento que conclui que não gosta de mais nada e nunca faz algo que não gosta de boa vontade, acredito que sim. Pode mudar de idéia depois, mas preferiu tentar. Já que, ao que parece, só existe uma vida, pra que desperdiçá-la fazendo o que os outros querem que se faça? por que nega a si mesmo? A pessoa é ou não é para o que nasce?
Resolveu tentar. Mesmo que não consiga, pelo menos quer deixar como legado a luta pelo que se acredita - a ética para consigo mesmo, tão violentada pelo nosso capitalismo selvagem, que normalmente ceifa talentos em detrimento de algo mais concreto que só o dinheiro rápido e fácil e em grandes e perigosas quantidades pode te dar.
Talvez tenha uma visão muito romântica e ingênua de mundo. Talvez precise de uns tropeços pra aprender a ter uma visão mais prática e burocrática da vida, como todo nós, em algum momento. Tavez precise realmente dos 5 mil por mês daquele cargo público que já almejou, e colocar na cabeça que ISSO é bom. Afinal, vai trabalhar pouco e ganhar muito, e isso é bom.
Mas no momento preferiu arriscar naquilo que é, naquilo que gosta. Vai trabalhar muito pra conseguir se manter, é um caminho difícil e incerto. Mas ao menos fará o que gosta, e de boa vontade.
Realmente admiro muito isso. Eu queria ter essa coragem. Ou ingenuidade, vai saber. Talvez um dia tenha...

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